quinta-feira, 7 de julho de 2011

CAPOCAM - Duas décadas de Resistência e Poesia



Fundada em 31 de março de 1989, exatamente 25 anos após o golpe militar de 64, a Casa do Poeta Camaqüense - CAPOCAM, defende acima de tudo, a liberdade de expressão, na crença de que os anos de chumbo da ditadura e da censura prévia, jamais voltarão a instalar-se no Brasil. Para o poeta Catulo Fernandes, um dos fundadores, apesar da história comprovar que, a data do golpe se deu em 1º de abril, e não em 31 de março, o dia escolhido para a fundação da CAPOCAM foi proposital. “Queríamos e buscamos a verdade poética em vez da mentira oficial. A criação da entidade foi, e é a tentativa de um contragolpe a anticultura que assola este país. Não adianta esperarmos que as coisas aconteçam de cima para baixo, temos que começar a luta nas nossas cidades”, assinala.

A CAPOCAM congrega além de Camaquã, município sede, as cidades de Arambaré, Cerro Grande do Sul, Chuvisca, Cristal, Dom Feliciano e Tapes, tendo como Patrono Eterno, Luiz Carlos Barbosa Lessa, Patrona de Honra, Helena Beatriz de Campos Corleta e Patrono Espiritual, Raphael Pires dos Santos. Quando a entidade comemorou o 10º aniversário em 1999, o escritor e historiador Barbosa Lessa, lembrou que o simples fato de ultrapassar uma década, por si só já diz tudo. “Quantas entidades se formam e não chegam sequer ao primeiro aniversário. E a CAPOCAM não só sobreviveu, como tem transmitido sua mensagem de valorização da cultura em geral, e a poesia em particular, às novas gerações”, justificou.

Dentre os objetivos desta entidade sem fins lucrativos, estão a descoberta de novos valores literários, o resgate de autores do passado que não tiveram oportunidade de publicar, além de manter intenso intercâmbio da região centro-sul com outros polos culturais. Dentro desta proposta a CAPOCAM homenageia autores locais como patronos de gestão, bem como contribuiu para a publicação de aproximadamente quarenta novos títulos. Para verificar-se a dimensão desta Casa de Poesia, basta traçar um paralelo com o passado: em 125 anos de emancipação, o município registrava a edição de apenas seis obras. “A CAPOCAM não é um patrimônio dos poetas, e sim da cultura camaqüense”, destaca Álvaro Santestevan, primeiro presidente e idealizador da entidade.

Diversos eventos são promovidos pela Casa, o mais tradicional, o Cafezinho Poético-Musical, com aproximadamente 80 apresentações. A Semana da Poesia em sua 13ª edição e a participação ativa em feiras de livros são outras atividades, bem como o lançamento de livros com sessão de autógrafos, palestras e recitais em escolas, debates e reuniões literárias, incluindo o Encontro Latino de Casas do Poeta e o Congresso Brasileiro de Poesia, além do Encontro Estadual de Escritores.
SEDE SOCIAL DA CAPOCAM


Com um quadro em torno de sessenta associados, muitos deles com premiações em concursos literários, obras individuais, e participação em coletâneas de vários estados brasileiros, a CAPOCAM segue sua jornada, procurando através do empenho de sua diretoria e associados, divulgar a cultura e mais precisamente, a literatura camaqüense no contexto artístico gaúcho e nacional. Para a ex-presidente Inez Ramos Crespo, primeira mulher a publicar uma obra poética na região, não há distinção no quadro social. “O iniciante e o autor mais experiente são iguais na Casa do Poeta. Em nosso meio não há espaço para discriminações”, apregoa.

A entidade que durante alguns anos contou com uma sede, através de convênio com a Câmara Municipal de Vereadores, período em que administrou a Biblioteca Pública daquele órgão Legislativo, após uma década dedicada à cultura, recebeu do poder público, um novo espaço, localizado na praça Silvio Luiz, Largo da Matriz, tornando-se a única entidade no país a ter uma sede social numa praça. Aliás, o local abrigava animais silvestres e era conhecido como a “praça dos macacos”. Os associados da CAPOCAM brincam dizendo que os macacos evoluíram e tornaram-se homens, e os homens por sua vez transformaram-se em poetas. O presidente na época da conquista, Valtencir Gama, lembra que, o ato de fundação da entidade aconteceu na extinta Casa da Cultura, logo depois elevada ao status de Secretaria, pelo então prefeito José Cândido de Godoy Netto; o mesmo que dez anos depois concedeu este importante local para a Casa do Poeta desenvolver suas atividades, promovendo ainda mais a cidade de Camaquã. “Esta é uma conquista do povo camaqüense, desde o mais humilde operário até o profissional mais graduado, porque assim como a educação, o homem não vive sem poesia”, resume.

A atual presidente Erotildes Citrini ressalta que após a fundação, além das obras individuais, a entidade lançou quatro coletâneas poéticas: “E por falar em poesia” (1990), “Luz, poesia, ação” (1991), “A palavra descoberta” (2000) e “Poesia pela paz” (2004). A CAPOCAM desenvolveu ainda o projeto “Meu primeiro livro meu primeiro autógrafo” com a edição de “Histórias de Crianças” contemplando quatro escolas locais (E. E. Manoel da Silva Pacheco, E. E. Sete de Setembro, E. M. Marina de Godoy Netto e escola infantil Toquinho de Gente), com o objetivo de despertar o interesse pela leitura e descobrir novos autores. Afora estas publicações, a entidade divulgou suas atividades no informativo “Voz da Cultura” (1990), no jornal Gazeta Regional, através do espaço “Notícias da CAPOCAM” e no jornal alternativo “Culto & Grosso”, além da constante divulgação nos mais diversos órgãos da imprensa.

A entidade tem vínculo direto com a Casa do Poeta Riograndense (CAPORI), a Casa do Poeta Brasileiro (POEBRAS) e a Casa do Poeta Latino-Americano (CAPOLAT). Atualmente a CAPOCAM é considerada uma das instituições literárias mais ativas do interior do Estado, sendo convidada para eventos em todo o Rio Grande do Sul.

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